Ensinando Evolução Biológica
Oferecendo Estratégias de Mediação no Conflito Ciência x Religião
Entendendo melhor os Magistrados da Religião e da Ciência
A ciência e a religião são instituições socialmente estabelecidas e que ambas desenvolvem o ensino, embora de forma diferente, mas de maneira legítima e socialmente aceita, sendo assim cada uma é considerada um magistrado.
O uso do princípio dos Magistrados não interferentes (MNI) proposto por Gould (1997, 2002) é uma ferramenta muito útil para auxílio do entendimento do conflito entre a religião e da ciência e pode ser usado como um caminho para o auxilio dos conflitos dentro da sala de aula.
Gould (1997) criou um princípio conhecido por princípio NOMA que é o acrônimo de “Nonoverlapping magisteria” em português “magistérios que não se sobrepõem” sendo que no Brasil ficou conhecido por Magistérios não interferentes (MNI), esta perspectiva pode evitar o conflito cognitivo entre religião e ciência, ou seja, cada um tem a sua autoridade de ensino e ambos devem se respeitar e evitar se sobrepor em questões que não lhe dizem respeito.
Nesta perspectiva o ensino religioso e o ensino científico pertencem a magistrados diferentes, pois cada um responde a necessidades diferentes do ser humano. Sendo assim os dois são incompatíveis para explicar o mesmo fenômeno e, portanto cada um deles deve-se limitar a área de seu interesse não permitindo o conflito (GOULD, 2002)
Segundo Stannard (1996) em sua obra “Ciência e Religião” descreve que a ciência preocupa-se em descrever os mecanismos, ou seja, o “como” as coisas funcionam e a fé preocupa-se no “porquê”. Tem-se então que o “como” e o “porquê” são diferentes vertentes da vida humana e muitos cristãos entendem que é fé ou ciência e não se trata disto, pois deve-se ter fé e ciência.
Entende-se que a religião trabalha o lado espiritual, moral, tem sua base na fé e busca explicações nos fenômenos de natureza espiritual. Enquanto que a ciência trata das “coisas do mundo”, ou seja, dos processos e fenômenos naturais, buscando explicações naturais utilizando regularidade, leis e teorias. Sendo assim a ciência não tem que falar de assuntos relativos à fé ou de fenômenos sobrenaturais e a religião não tem que tentar explicar fenômenos naturais, pois não pode fornecer explicações plausíveis sobre estes, ou seja, os fenômenos do mundo físico são assuntos da ciência e somente dela (CASTRO e ROSA, 2007).
Para outros autores considerar religião e ciência como magistrados não interferentes é difícil, pois o conflito se encontra na mente e na prática das pessoas (DORVILLÉ, 2010). O que se deve ensinar é diferenciar os dois magistrados, um busca explicar os mecanismos materiais de funcionamento do mundo físico e o outro preocupa com questões morais, finalistas e metafísicas.
Nesta mesma linha de pensamento, Cobern (1991) relata que a ciência tem como objetivos os fenômenos naturais usando explicações testáveis, onde se pode teorizar e ainda pressupõe que a natureza é possível de ser conhecida, existe uma causalidade nela. As religiões da forma como são construídas e pela sua natureza não podem, fornecer explicações razoáveis a respeito do mundo físico já que as explicações religiosas são baseadas em interferências isoladas e discretas de agentes espirituais, milagres, etc. o que são contradições as leis estabelecidas pela ciência.
O magistrado da religião apresenta dois elementos na sua interpretação que é o literalismo bíblico, sendo importante esclarecer que nas visões enraizadas de algumas religiões a ideia de assumir a verdade não literal da palavra é sinônimo de negação da fé ou perda se sua potência. Quando isto aparece à chance de mediação com o pensamento científico é reduzida. O outro elemento da religião é o pensamento mágico que são as visões marcadamente encantadas do mundo em que “o mágico” aparece a qualquer momento e quando menor for à probabilidade de ocorrência de um evento, maior o poder que se encontra na afirmação de sua ocorrência (DORVILLÉ, 2010).
O grande problema é que este conflito não se manifesta em uma área periférica da ciência da vida e sim em um tema central da biologia e que pode gerar defasagem e não entendimento de temas de grande relevância atual com transgênicos, clonagem, resistência bacteriana entre outros (MEYER e EL-HANI, 2005).