Ensinando Evolução Biológica
Oferecendo Estratégias de Mediação no Conflito Ciência x Religião
Criacionismo como concepção alternativa
O que é criacionismo?
Consiste em um conjunto de ideias principalmente de doutrinas monoteístas sobre a origem do universo, não estando conectada a nenhuma religião. Apenas acreditam na presença de um Criador e aceitam a existência de um Deus absoluto responsável por tudo que existe. (DUROZOI e RUSSEL, 1990).
Esta visão criacionista surge a partir da experiência humana primitiva que tentava responder a indagação da origem de tudo e do universo, fato este que tem acompanhado o espírito humano em todas as civilizações. Sendo assim ao se basear-se exclusivamente na interpretação literal da bíblia e dos textos sagrados, o criacionista recusa a ideia de evolução das espécies e portando se opõe ao darwinismo.
O objetivo do criacionismo e mostrar que DEUS é o criador dentro do conhecimento científico, assim como também assegurar as verdades bíblicas. Possuem duas vertentes principais, a primeira vertente do criacionismo tenta negar as descobertas da ciência e a segunda tenta integrar o conhecimento científico ao religioso e é defendida por especialistas em ciência (SCHUNEMANN, 2002).
Isto é corroborado por Alters e Alters (2001) que relatam que a Bíblia, principalmente no livro de Gênesis é uma fonte motivadora de rejeição da Teoria da Evolução por esclarecer que DEUS criou tudo e assim promove argumentos para os criacionistas.
Os criacionistas muitas vezes discordam da evolução biológica por não entenderem o processo e acabando por rebaterem as ideias alegando que as mesmas não podem ser provadas e que não possuem processos observáveis, o que é uma inverdade (SCHUNEMANN, 2002).
No criacionismo a ação Divina ou sobrenatural sobrepõe a explicação dada a um fenômeno natural destacando que o continuo surgimento de novas espécies nunca ocorre, já que relatam que tudo foi criado de uma só vez por Deus durante os seis dias de criação, ou seja, ficando de fora qualquer ideia de transformação (MAYR, 1998).
O criacionismo declara uma suposta cientificidade, sendo assim alvo de crítica pelos cientistas, valendo aqui ressaltar que o criacionismo não é ciência com relatado por Castro e Leyser (2007).
Origem do Criacionismo
A polêmica entre a ideia criacionista e a evolução biológica constitui uma controvérsia de origem norte-americana que acabou por atingir um status de movimento político sério. Devido a uma xenofobia provocada pela chegada de um grande número de imigrantes de diversas formações religiosas num país de maioria protestante. (ARMSTRONG, 2001; GOULD, 2002).
A base do criacionismo são os cristãos protestantes dos EUA e iniciou-se logo após a publicação do Livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin. Ganhou força a partir de 1920 praticamente declarando “guerra” ao evolucionismo. Eles entendem que o Livro de Genesis como uma versão exata da criação diferente do protestantismo europeu que entende a criação relatada na Bíblia como metáfora e, portanto aceitam a evolução biológica. A questão política e partidária dos EUA também tem influência neste entendimento (MILLER; SCOTT e OKAMOTO, 2006).
Segundo Stannard (1996) em seu livro Ciência e Religião os cristãos fundamentalistas dos Estados Unidos é que acabam colidindo com os juízos científicos sobre a evolução por interpretarem o livro de Genesis de forma literal, contribuindo para que muitos cientistas menosprezem qualquer religião.
Esta visão é citada por Armostron (2001) e Gould (2002) que relatam que o criacionismo considera a teoria da evolução biológica uma forte ameaça à fé e assim este grupo de fundamentalistas americanos se organizaram com a motivação de excluir o tema evolução do ensino nas escolas públicas americana. Os EUA é o País com mais baixo grau de aceitação da teoria da evolução biológica entre os países ocidentais desenvolvidos (DORVILLÉ, 2010).
Histórico do Criacionismo
Como já mencionado a partir de 1920 inicia-se um destaque maior do criacionismo nos EUA com o político Willian Jennings Bryan que disputou e perdeu por 3 vezes a campanha a presidência dos EUA. Este político iniciou uma grande campanha no ano de 1921 por todo o país com palestras sobre o criacionismo sendo que em 1922 o estado de Kentucky lançou o primeiro movimento contra o evolucionismo, sendo seguido por mais 20 estados, no qual três deles, Tenneesse, Mississipi e Arkansas baniram o ensino de evolução (NUMBERS, 2006). No Tenneesse a legislação ficou conhecida por Lei de Butler (“Butler Act”) de 1925.
Após o início mais marcante deste conflito entre o criacionismo e o evolucionismo a partir da década de 1920 tivemos um episódio marcante na historia que ficou conhecido pelo “Julgamento do Macaco” (Monkey Trial) retratado no filme “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind” 1960 e 1999). O professor de educação física John Thomas Scopes que foi contratado temporariamente para substituir um professor de biologia que estava doente e foi contra a Lei de Butler e ensinou evolução biológica em uma escola na cidade de Dayton no estado do Tennessee nos Estados Unidos em 1925. O julgamento durou 8 dias e teve repercussão nacional dividindo os americanos prós e contra a evolução. O evento foi o primeiro a ser transmitido ao vivo e Bryan fez parte da equipe da promotoria que atuou como acusação sendo Clarence Darrow como advogado da defesa. No final o professor Scopes foi considerado culpado a pagar uma multa de U$100,00, o que foi considerado um erro jurídico que anulou a condenação, pois na lei local, penas superiores a U$50,00 deveriam ser fixadas pelo Juri e assim o réu sai livre.
Já em 1957 a sociedade americana devido a Guerra Fria com a União Soviética adotou um programa conhecido por Biological Sciences Curriculum Study (BSCS) e iniciou em 1959 a evolução biológica como eixo unificador e fundamental no ensino das ciências biológicas (SCOTT, 2004). Em poucos meses os livros BSCS ganharam o mercado americano inclusive em estados que tinham Leis contrárias a este ensino (LARSON, 2003).
O movimento criacionista moderno foi oficialmente estabelecido por John Whitcomb e Henry Morris em 1961 com a publicação do livro “The Genesis Flood” (O Dilúvio Genesis) que relata o que deveria ser ensinado sobre os livros sagrados que tratam da criação das formas vivas junto com ao ensino das teorias científicas. Sendo que o principal argumento utilizado é que se tem que apresentar todas as explicações possíveis para um determinado fenômeno e deixar os jovens decidirem o que vão escolher como verdade. O cenário se modifica quando o que se pretende é inserir o ensino criacionista na escola desconsiderando assim a teoria da evolução.
A primeira derrota acentuada do criacionismo ocorreu em 1968 quando a Suprema Corte Americana considerou inconstitucionais os estatudos ante-evolucionistas em vigência nos estados do sul dos EUA (GOULD, 2002). Posteriormente os fundamentalistas mudaram de estratégia no final dos anos 70 e passaram a reivindicar que o ensino contemplasse tanto o evolucionismo quanto o criacionismo e que fossem tratadas de forma igualitária no ensino de ciências. Alegando sempre que os alunos teriam a oportunidade de julgar as evidências e considerar a mais correta para eles. Em alguns estados como o Arkansar e Lousiana chegou a ser criadas leis que regulamentavam esta prática. Estas Leis foram revogadas pela Suprema Corte Americana em 1987 (GOULD, 2002).
Em 1999 no Estado do Kansas outra estratégia foi usada que foi a retirada completa do ensino de evolução biológica do currículo escolar através do seu Conselho de Educação que com 6 votos a favor e 4 contra simplesmente retirou a teoria da evolução biológica da escola. O membro do Conselho que fez o pronunciamento foi Harold Voth, sendo revogada somente em 2001. Em 2002 em Ohio foi permitido que as escolas incluíssem as ideias do movimento conhecido por Planejamento Inteligente (Intelligent Design). E Outras teorias alternativas a evolução biológica foram admitidas em Atlanta em 2002.
Dentre deste histórico verificou-se que a Suprema Corte Americana tem dado maior ganho a evolução usando o argumento que as crenças religiosas violam a liberdade individual de credo, estabelecida na primeira ementa da Constituição Norte Americana (PENNOCK, 2001).
No artigo Genesis VS Geology o autor Stephen Jay Gould esclarece bem que a ideia central do criacionismo não pode ser testada e seus enunciados periféricos são todos falsos, o que inviabiliza a ideia de ensino e de postura na escola laica brasileira, em detrimento do ensino de evolução biológica.