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Análise do Conflito entre religião e ciência durante o ensino de evolução

O conflito envolvendo a ciência e a religião na compreensão de evolução biológica reflete uma intolerância mútua, no qual os evolucionistas não tem formação em teologia e ignoram este conhecimento e já os criacionistas não tem formação científica e acabam não compreendendo os processos teóricos, lembrando que ignorância nunca foi um objetivo proposto na Bíblia.

 

O fato é que existem tanto dificuldades internas (conceitos e entendimentos) no processo de ensino de evolução biológica como trabalhado no item 4.3 deste trabalho como fatores externos relacionados a aspectos culturais e religiosos presentes no meio sociocultural que emerge na educação científica na forma de conflitos e tensões (OLIVEIRA, 2011).

 

Na literatura são propostas três reações entre educação científica e educação religiosa retratada em diversas bibliografias, mas em especial no livro “Pilares do Tempo” de Stephen Jay Gould.

 

1- Educação religiosa é incompatível e conflitante com a educação científica dada a incompatibilidade doutrinária, metodológica e atitudinal entre as duas, sendo esta postura defendida principalmente por Mahner e Bunge (1996).

 

2- A concepção de que a educação religiosa e educação científica são independentes e complementares dado que a ciência e a religião respondem a distintas necessidades humanas, orientações esta defendida por Woolnough (1996), Lacey (1996) e Gould (2002). Nesta visão entende que não há possibilidade de conflitos epistêmicos reais dados o fato a sua incomensurabilidade, propõe-se então um diálogo enriquecedor entre as partes.

3- Ideia da possibilidade da criação de um campo interdisciplinar reunindo teologia e ciência, considerando o único capaz de fornecer uma visão integra da realidade, esta versão é defendida por Bielfeld (1999) e Russel (2001). Relatam que ambas se apresentam suficientemente semelhantes em seus aspectos epistemológicos para que possam relacionar de forma interdisciplinar na busca do conhecimento.

 

Na visão de Mahner e Bunge (1996), neste trabalho mencionado na reação um, que retrata da incompatibilidade é afirmado de maneira categórica que a ciência pressupõe uma natureza naturalista e materialista não sendo possível propor uma metafísica mais ampla para incluir a perspectiva religiosa. Sendo assim elas são incompatíveis em todos os aspectos sejam eles metodológicos ou de atitude. Neste entendimento a educação religiosa precoce é prejudicial à educação científica, podendo até inviabilizá-la. Para estes autores a religião é uma coleção fixa de doutrinas e crenças não testáveis, onde se propõe o tempo todo fazer juízo de valor a cerca dos objetos. A religião tem um papel na orientação da conduta moral e analisa doutrinas acerca do sobrenatural procurando estabelecer relação entre elas e os seres humanos. Já a ciência sendo materialista não contempla a existência de entidades sobrenaturais e eventos miraculosos. Lembrando também que estas entidades e eventos não são passíveis de testes empíricos objetivos uma vez que são inacessíveis a métodos. Na visão final destes autores a pessoa tem que optar pela perspectiva científica e a religiosa.

 

Na perspectiva do campo interdisciplinar aqui neste trabalho retratada na reação 3, é proposto pela instituição Center for Theology and Natural Science (CTNS) a busca da integração dos dois sistemas no mesmo campo de investigação. Os membros deste grupo entendem que existem diferenças entre religião e ciência, mas não as interpretam como incompatibilidade e sim como questões para serem enfrentadas e investigadas num campo interdisciplinar (RUSSEL, 2001). Tenta-se combinar a prática de pesquisa única entre os dois campos como, por exemplo, o chamado realismo crítico que parte do pressuposto de que o conhecimento de um objeto se faz através dos sentidos. onde sensação é sempre a "sensação do objeto" (BARBOUR, 1996).

 

Nesta visão as duas formas se conciliam e a evolução é levada para o centro das reflexões sobre o significado da vida, de Deus e do Universo e preocupa em demonstrar que a evolução biológica pode valorizar e enriquecer os ensinamentos tradicionais sobre Deus e sua forma de agir no mundo (HAUGHT, 2002).

 

O que se entende é que nesta tentativa de construir um campo único incluindo os dois grupos acabam levando a distorções dos compromissos metodológicos de ambos, já que a religião e ciência são chamadas a responder a distintas questões e necessidades humanas.

 

Na perspectiva aqui citada na reação 2 deixada por último na análise por se entender que é a visão mais apropriada de entendimento do conflito entre religião e ciência que é a tese da independência e do diálogo construtivo entre ambos.

 

Neste entendimento autores como Lacey (1996), Poole (1996) e Woolnough (1996) entendem que existe sim uma incompatibilidade metafísica e metodológica entre ciência e religião como relatado na relação um, mas negam que as diferenças geram conflitos inevitáveis a ponto das pessoas terem que optar por apenas um deles. Sendo assim entende-se que existe incompatibilidade, mas esta não é ou não deve ser conflitante.

 

Os autores desta visão admitem que a ciência seja usada para explicar fenômenos naturais e admite que outros tipos de explicações são mais adequados para fenômenos sobrenaturais indicando assim a complementaridade entre os dois. A Ciência não esgota a totalidade das questões da humanidade, refletindo assim a necessidade da religião.

 

É claro que não podemos definir a ciência simplesmente como um corpo de fatos inquestionáveis porque ela tem limites e falhas e também não podemos atribuir a religião como um conjunto de crenças não verificáveis, porque ela tem importância na formação da ética e da esperança (BROOKE, 1991).

 

Os autores desta perspectiva chamam atenção que não se pode conceber o mundo através de uma perspectiva materialista, científica e unidimensional, pois assim estaremos deixando de lado à música, a arte, a estética e principalmente o amor. Seguindo esta ideia Woolnough (1996) relata que sendo que o mundo não é unidimensional, então não podemos interpretá-lo sob apenas uma perspectiva. Entende-se que cada uma destas perspectivas está baseada em cada forma de conhecimento e assim nenhuma delas seria incompatível com as demais. A Solução do conflito deve ser tratada de modo a estabelecer qual contexto e para quais perguntas devo utilizar um destes sistemas de conhecimentos.

 

A tese da independência e da complementaridade encontra respaldo na posição de Cobern (1994) no chamado “construtivismo contextual” também considera possível a convivência destas crenças contraditórias na ecologia conceitual de um indivíduo, desde que sejam empregadas em contextos diferentes. Neste processo o construtivismo contextual relata que uma pessoa pode compreender um conceito e dominá-lo, mas rejeitar sua condição de verdade, considerando-o falso. Isto pressupõe que uma pessoa religiosa pode sim desenvolver uma visão de mundo compatível com a ciência, lembrando que este entendimento é aplicável a alunos de mente aberta (COBERN, 1991).

 

Cobern (1996) estabelece também o conceito de “Apartheid Cognitivo” para relatar alunos que mantém o conhecimento científico isolado para não ter que entrar em conflito com o conhecimento religioso prévio, lembrando que os alunos não podem compartimentar os conhecimentos, os dois devem interagir. 

 

Ressalta-se que nesta dissertação é tomada como referencia a preposição de Cobern (1991) e de Gould (2002) na busca de compatibilidade de visão de mundo. Gould (2002) vai mais longe e analisa que existem razões psicológicas para a existência do conflito e identifica o anseio por certeza como o grande motivo que leva as pessoas a refugiarem na visão de mundo religiosa e recusarem o conhecimento científico.

 

Uma boa parte das polêmicas deve-se a informações incompletas ou informadas de forma deficiente pelos meios de comunicação, assim como também a ruim educação científica aplicada no Brasil. Sabe-se que o conteúdo de evolução biológica é um dos assuntos que gera esta polêmica tanto por sua natureza quanto por sua extensão. A causa disto é a falta de entendimento adequado do assunto, assim como as implicações éticas deste conceito conforme mencionado por Castro e Leyser (2007). A maioria das polêmicas e dos conflitos poderia ser resolvida somente com esclarecimento maior dos processos e dos padrões envolvidos. 

 

Como relatado por diversos pesquisadores indivíduos que possuem maior proximidade com a crença religiosa estão menos propensos a aceitar a evolução biológica (MILLER, SCOTT e OKAMOTO, 2006). Neste sentido Pagan (2009) também esclarece que a religião e a intensidade do compromisso com ela influenciam na aceitação da evolução. Este aspecto também foi abordado por Vieira e Falcão (2007) que esclarece que para alguns alunos que tenham convicções religiosas a introdução do tema evolução biológica pode ser recebida como provocação as suas crenças.

 

O fato ainda mais complicado é que para alguns professores ensinar evolução é negar a existência de um ser superior como retratado nos trabalho de Carneiro (2004) Meglhioratti (2004) e Silva et. al. (2009).

Elaborado por Sérgio Chumbinho na Dissertação de Mestrado em Ensino de Ciências da PUC-MG

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